Inassim e Makulelu: Uma Canção de Amor

As 12:30h, 6 de novembro, 2023
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                                                                                                                                                          por Jalima Borges

Descobri a intensa história de amor de Makulelu por sua esposa, Inassim, durante um encontro especial em Lengália, após o festival das aves que segue o equinócio da primavera. Ouvir sobre esse amor que transcendia o tempo e as dimensões me deixou maravilhada. A conexão profunda entre os dois estava entrelaçada nas próprias raízes de Edonguera e esta história inspirou a criação da música “Inassim”.

Em Edonguera, a conexão com a natureza é algo sagrado, e as pessoas acreditam que todos os seres vivos têm seus próprios avatares espirituais. Makulelu é um praticante ávido do canto e da dança do firmamento, uma tradição que é parte integrante da vida em Edonguera. Por meio desse canto, as pessoas acreditam poder se conectar com os espíritos dos animais e plantas da ilha.

Enquanto estava num retiro espiritual na Floresta dos Xarilaus, uma região próxima das cavernas Dalian, nas montanhas e vales ao norte de Inavô, Makulelu viu Inassim em um sonho. Ela apareceu cercada por avatares de aves e flores que cantavam em harmonia. Foi uma visão de beleza e graça, e Makulelu sentiu sua melodia de amor atravessar o firmamento e tocar seu coração. Durante seu retiro, Makulelu se dedicava a viver em comunhão com a natureza, aprendendo diversos sistemas de comunicação entre humanos e animais que haviam sido desenvolvidos desde tempos imemoriais.

O impacto dessa visão foi tão profundo que ele soube que precisava honrar esse amor em forma de música. Assim, ele se aventurou a colher as raras e sagradas bagas “sitankari” no coração da floresta. Durante a noite, os felinos selvagens da floresta o guiaram até um local repleto de arbustos de “sitankari” e, pela manhã, ele já conhecia o caminho para chegar até lá. A jornada incluía passar por uma caverna sob a montanha, que o conduzia a uma espécie de bosque sagrado.

Após colher as bagas dos arbustos, seu coração começou a pulsar com o poder de “cona”. Makulelu sentiu uma conexão profunda com essa força, cuja expressão era intrínseca a todos que nasciam em Edonguera, uma força que se estendia a toda a criação e que impulsionava a tradição de cuidar da natureza que transformara a ilha em um incrível jardim ao ar livre.

Enquanto colhia as frutas, ele entoava as palavras mantricas que haviam surgido durante a visão: “Cona, cona, don’t bé Cona, cona, rô bé.” Esse cântico era mais do que simples palavras; era um elo profundo que o conectava com Inassim, como um fio invisível que cruzava as dimensões e evocava a presença dela. Essa conexão com o amor e a criação é uma parte essencial da vida em Edonguera, onde a abundância de bênçãos e a multiplicação da alegria são uma realidade e onde a harmonia com todos os seres vivos é a norma.

Durante o retiro, Makulelu caiu em transe novamente e, desta vez, ele viu algo incrível. Um navio voador, conhecido como ‘singhirô,’ apareceu nos céus de Edonguera. Inassim estava a bordo e o coração de Makulelu se encheu de alegria. Ele se uniu a ela em espírito e juntos entraram em um jardim etéreo, onde compreenderam que sua conexão era tão profunda que transcendia a própria existência.

Neste jardim, seres espirituais que cuidavam do futuro de Makulelu e de sua missão no mundo externo, se reuniram. Era um lugar que se assemelhava a um jardim nas estrelas, com árvores sempre em flor, carregadas de frutas douradas e prateadas. Pássaros de plumagem cintilante, cantando canções celestiais, voavam entre as folhagens resplandecentes. Os rios fluíam com águas límpidas que refletiam os raios de estrelas distantes. A luz dourada do sol etéreo banhava tudo em um brilho suave, e uma brisa morna e perfumada acariciava o ambiente.

Nesse lugar, a eternidade se entrelaçava com o tempo e os laços que uniam as almas transcendiam a simples existência. Embora o espírito que viria à Terra como Tassanibari já estivesse ligado aos seus futuros pais, ainda faltavam alguns anos para que Makulelu finalmente encontrasse Inassim.

Enquanto Makulelu estava em uma missão no Cairo, que durou meses e foi repleta de altos e baixos, todas as noites, ao se apresentar em espírito para o firmamento, ele renovava suas energias fazendo uma música mágica em seus sonhos. Enfrentava os problemas do mundo exterior e estava em sintonia com as preocupações das pessoas daquele mundo.

Essa experiência transformadora, o inspirou a compor a música “Inassim,” que celebrava o amor que ele e Inassim compartilhavam. Era uma canção de gratidão ao destino por tê-los unido e uma expressão do encanto misterioso que parecia habitar o âmago da ilha de Edonguera, no local onde eles celebraram seu matrimônio.

Essa música logo se tornou uma parte essencial da tradição musical de Edonguera, lembrando a todos a importância do amor, da conexão com a natureza e das profundas relações espirituais com os seres vivos que compartilham a ilha.

Ouça “Inassim” aqui: