por Jalima Borges
Tassanibari é uma música que celebra o vínculo especial entre Makulelu e seu filho Tassanibari. Este laço começou a se formar quando o menino ainda estava no ventre de sua mãe, Inassim. Durante a gestação, ele já manifestava sua vitalidade através de seus movimentos e chutes, como se estivesse dançando ao ritmo da vida. Makulelu e Inassim testemunhavam esses movimentos com alegria e um profundo senso de conexão com o pequeno que estava a caminho. O momento do nascimento trouxe ao mundo um menino forte e saudável, cheio de energia e um amor inato pela música. Desde tenra idade, Tassanibari se juntava ao pai nas danças e nas cantorias, embalado pelos mantras e canções de Makulelu. Seu sorriso contagiante e seus olhos brilhantes expressavam uma paixão pela música que era visível para todos que o conheciam.
À medida que Tassanibari crescia e suas habilidades verbais se desenvolviam, ele adorava cantarolar na praia de Lengália, acompanhado por melodias suaves que atraíam não apenas os ouvidos humanos, mas também os amigos animais que compartilhavam o ambiente. Enquanto construía castelos de areia e explorava as maravilhas do local, entoava as palavras “cuparikidi” e “pararigudu” com uma alegria contagiante, criando uma sinfonia harmoniosa que alcançava todos os cantos da praia.
Seu riso alegre ecoava junto com o som das ondas e os pássaros marinhos respondiam em uma dança aérea coordenada, como se entendessem as palavras de Tassanibari. Essas interações revelavam seu dom especial para se comunicar com os habitantes alados de Lengália, uma conexão que se tornaria uma fonte constante de encanto e inspiração para ele e seu pai Makulelu, mesmo quando este estava longe em suas viagens pelo mundo. Essas palavras, além de encantarem as crianças, também eram melodias entendidas pelos golfinhos que brincavam nas águas próximas, criando uma atmosfera mágica e única na praia de Lengália.
Retrato de Tassanibari, por Zumdi Pizzoro (1989).
Além de salvar pessoas em terras estrangeiras, os edonguerianos, durante vários conflitos, também estendem sua mão protetora a plantas e animais, mantendo viva a diversidade de vida e do pensamento. Tassanibari, desde a infância, revela uma habilidade única de se comunicar com animais, uma dádiva que se destaca mesmo entre os edonguerianos. Enquanto brinca na praia de Lengália, pássaros e criaturas marinhas parecem responder a seus cânticos, criando uma sinfonia natural que ecoa em harmonia na ilha.
Nesta terra oculta, a conexão entre pais e filhos vai além do convencional. Enquanto Makulelu se dedicava a um projeto de construção em Angola, a distância física de Tassanibari o inquietava. Em meio ao cair da noite africana, Makulelu encontrava momentos de reflexão à beira de uma fogueira, cercado pelos sons da natureza local.
Durante uma dessas noites, quando o céu estava claro e salpicado de estrelas brilhantes, Makulelu sentiu um chamado interior. Lembrando-se das histórias dos Anciões sobre a comunicação através do firmamento, ele decidiu se entregar a essa experiência ancestral. Sentado sob o manto celeste, ele fechou os olhos e concentrou sua mente, buscando uma conexão com a rede etérea que ligava Edonguera a terras distantes.
No silêncio profundo da noite, Makulelu começou a entoar suavemente cânticos que ecoavam as melodias celestiais. Cada nota parecia ser um elo invisível, viajando através do firmamento em busca de seu destino distante. O líder da construção agora se tornava um canal, permitindo que a magia da comunicação além das fronteiras se desenrolasse.
Enquanto as palavras de Makulelu se elevavam ao céu, ele sentia uma resposta, como um sussurro suave no vento africano. Mensagens sutis, carregadas de amor paternal, começaram a fluir de volta, trazendo uma sensação reconfortante de proximidade com seu filho Tassanibari. Nesse momento, as estrelas pareciam brilhar com uma luz especial, refletindo a conexão única entre pai e filho que transcendia a distância física.
Essa experiência inspiradora durante sua estadia em Angola se tornaria a semente da música “Tassanibari”. As histórias ancestrais e a fusão de culturas encontraram expressão nessa composição, que celebrava não apenas a conexão entre Makulelu e Tassanibari, mas também a magia que permeava Edonguera e suas ligações além das fronteiras visíveis.
A música “Tassanibari” transcende a celebração do amor entre pais e filhos. Ela ressoa com a alegria da infância, a conexão com a natureza e a riqueza da cultura edongueriana. Cada acorde carrega a essência de um diálogo cósmico, uma comunicação que vai além das palavras, envolvendo as energias do firmamento e a alma da ilha.
Durante sua peregrinação em Angola, Makulelu se envolveu em projetos de construção, mas seu coração estava em Edonguera. A comunicação sutil com Tassanibari através do firmamento o impulsionou a criar uma melodia que incorpora não apenas a influência angolana, mas também a essência mística de Edonguera. A música reflete a ideia de concentração e fluidez, como se estivesse voando e se movendo junto com a melodia e a voz, pairando no ar.
Obra de Brelina Tornis, “Roda em Lengália” (1873).Os instrumentos musicais em Edonguera têm uma origem única, muitos sendo “feitos em casa” a partir de materiais naturais encontrados em Lengália. Durante a “Opi-Gá,” a dança tradicional que inspirou “Tassanibari,” esses instrumentos ecoam pela praia, criando uma sinfonia que conecta não apenas os edonguerianos, mas também as criaturas da natureza. Violinos, violoncelos e violas, conhecidos como “Ululi,” são parte integrante da orquestra natural usada neste arranjo.
A música “Tassanibari” expressa vários aspectos da cultura edongueriana e suas tradições, que mudam de acordo com as experiências e interações do povo no mundo exterior e através da história. Hoje, ela ressoa nas praias de Edonguera, fortalecendo a nossa comunidade e os elos entre as gerações. Cada nota representa as linhas da vida em Edonguera, onde a música toca o firmamento, ecoando em harmonias de corações presentes, estando eles perto ou longe.
Ouça Tassanibari: