Comunidade e Dança: O Legado de Yopá

As 11:44h, 13 de novembro, 2023
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                                                                                                                                                    por Catos Lengalian

A música “Yopá” é um hino de paz e união, criada pelas mãos talentosas de Makulelu, um dos muitos músicos de Edonguera. Nesta ilha oculta, os edonguerianos sempre foram defensores da paz, prontos para ajudar o mundo externo com missões de ajuda, inclusive durante conflitos e guerras.

A força da dança Yopá é uma prática imbatível. Aqueles que se tornam mestres nessa arte têm uma capacidade quase sobre-humana de manter a harmonia em situações de conflito. Os edonguerianos se tornam especialistas em Yopá com o objetivo de levar sua habilidade ao mundo exterior, auxiliando pessoas que passam por conflitos e dificuldades.

Uma vez que a desarmonia é praticamente inexistente em Edonguera, o ímpeto de sair e fazer a diferença no mundo externo é quase irresistível. Algumas pessoas são chamadas em seus sonhos para servir o mundo e, geralmente, seguem sua própria intuição para encontrar seu caminho.

 Yopá é uma prática interna de conexão, semelhante ao Yoga. Os antigos sábios de Edonguera estavam envolvidos na cultura védica. Até hoje, há debates sobre como o Yoga e o Yopá estão relacionados, pois ambos são sistemas que buscam a união e a harmonia com o cosmos, embora com métodos diferentes. O Yopá é a expressão edongueriana desse anseio universal por paz e unidade, compartilhando sua mensagem de harmonia com o mundo.

O termo “Yopá” transcende simples palavras, significando a força interna que emana de cada habitante da ilha, irradiando para fora e apaziguando todos ao seu redor. É também um verbo que os edonguerianos usam para afastar o mal e os espíritos malignos, reforçando a crença de que a dança é uma forma poderosa de proteção e purificação.

A dança Yopá é uma arte física e exigente, que requer agilidade, força e destreza. Suas origens remontam a tempos imemoriais em Edonguera, tendo dado base a muitas variações ao longo dos séculos, resultado do contato com diversas culturas que influenciaram seus movimentos. Alguns desses movimentos lembram danças indianas, enquanto outros possuem uma singularidade própria, refletindo a riqueza da tradição de Edonguera. É importante observar que, apesar de algumas semelhanças, Yopá tem suas raízes distintas da capoeira brasileira, um estilo de luta afro-brasileira.

Ao longo dos anos, dezenas de músicas foram criadas para acompanhar as práticas de Yopá, cada uma trazendo seu próprio encanto e emoção à dança. Cada melodia inclue momentos especiais para sincronizar saltos e arranjar os dançarinos, criando um espetáculo hipnotizante de movimento e harmonia.

Os dançarinos e os cantores de Yopá constantemente desenvolvem novos movimentos e sequências, e ao longo dos anos muitas variações desse estilo de dança surgiram. Posteriormente, no século XX, praticantes de Yopá começaram a seguir caravanas que iam em direção à Índia e faziam travessias para o Brasil e para a África, criando uma rede de intercâmbio cultural. Alguns mestres de capoeira do Brasil tiveram o privilégio de visitar Edonguera a partir dos anos 1950. Isso se tornou uma tradição.

Anualmente, a praia de Lengália se transforma em um cenário único para a competição oficial de Yopá. Dançarinos e cantores de todas as partes de Edonguera se reúnem para celebrar a arte e a comunidade, demonstrando sua conexão e inspiração através de cantos, movimentos e saltos. Trata-se de uma competição que celebra a unidade das pessoas na ilha.

Makulelu e sua banda são mestres de Yopá, tendo vencido a competição várias vezes. Após conquistarem um total de dez vitórias, eles se tornaram Yopá Masters, assumindo a responsabilidade de ensinar e aconselhar os competidores nas futuras provas. Eles também participaram do intercâmbio com capoeiristas do Brasil, enriquecendo a tradição e promovendo uma ligação cultural ainda mais forte entre Edonguera e outras nações.

A versão de “Yopá” apresentada por Makulelu nesta história nasceu de sua última vitória, em agosto de 2014, no calendário comum. No entanto, é importante destacar que o conceito de competição em Yopá é único e não se encaixa nos padrões comuns de competições, onde o objetivo principal é vencer a qualquer custo. Na verdade, a essência da competição de Yopá é escolher a equipe que melhor representa os critérios técnicos, incluindo a conexão rítmica entre a dança e a banda.

Em Yopá, os participantes não têm o desejo de vencer e é considerado inapropriado votar em sua própria equipe enquanto estão competindo. A comunidade de apreciadores da dança atua como juízes informais e, no final, os vencedores emergem naturalmente. A celebração da vitória é uma ocasião de alegria e união, em que a competição se dissolve na apreciação da arte e da comunidade. Este aspecto singular da competição de Yopá demonstra a harmonia da comunidade edongueriana.

Após os vencedores serem escolhidos, eles se dispersam e se misturam a outras equipes, dando início a uma celebração espontânea que se estende por toda a praia. Os dançarinos e músicos se unem alegremente na celebração, que dura a noite toda. É um momento em que todos se sentem parte de algo maior, compartilhando músicas, danças e alegria com todos ao seu redor. Este é um dos momentos mais especiais da competição de Yopá em Edonguera, onde a conexão e a celebração da diversidade são verdadeiramente valorizadas.

Como diz a letra, “Em Nakiti, um massili,” é uma homenagem à dança de Yopá e sua evolução ao longo dos séculos, especialmente à variação Massili originada na Costa do Marfim, marcando assim a influência de outras culturas na evolução dessa arte.

Os edonguerianos sempre foram pessoas da paz. A Ilha de Edonguera, protegida por um véu mágico que a mantém oculta do mundo externo, permaneceu alheia aos conflitos mundiais que assolaram a terra. Como resultado, ela frequentemente serviu de refúgio para os viajantes que lutavam em diferentes lados desses conflitos. Os edonguerianos têm a missão de resgatar e trazer aqueles que precisam de proteção, pois o mundo exterior é incapaz de encontrar a ilha por conta própria, devido ao véu mágico que a protege. Após serem resgatados, a memória de Edonguera é apagada quando deixam a ilha. 

Os edonguerianos possuem um profundo respeito pela diversidade cultural e pela diferença, o que é enraizado nos princípios sagrados da ilha. O conhecimento e a compreensão do mundo externo são adquiridos desde cedo por meio das histórias dos Anciões e das caravanas que se espalham para todas as direções, muitas vezes ultrapassando as fronteiras do mundo externo conhecido pela maioria. 

Durante vários conflitos, os edonguerianos não apenas salvaram pessoas, mas também plantas e animais da extinção, demonstrando seu compromisso com a diversidade de vida e de pensamento. 

“Yopá” narra a história desse árduo trabalho político dos edonguerianos em prol da paz. A expressão “yopá” simboliza a força interna que emana de cada edongueriano, espalhando-se para apaziguar e unir todos ao seu redor.

O cerne da mensagem é que as pessoas podem se entender e interagir sem causar danos, por meio de danças e lutas amigáveis, promovendo o diálogo e a paz entre todas as nações. “Yopá” tem o ritmo da própria natureza, com movimentos rápidos num cenário perfumado e inspirador.

As competições anuais de Yopá em Lengália são um reflexo dessa mensagem de união. Nelas, músicos e dançarinos se reúnem para celebrar a arte e a comunhão entre as pessoas. Através de cantos, movimentos e saltos, eles demonstram sua conexão e inspiração, estabelecendo a paz como um valor fundamental na ilha de Edonguera.

Assim, “Yopá” serve como um lembrete constante do poder da música e da dança como instrumentos para promover a paz e a unidade entre todos, independentemente de sua origem ou nacionalidade. É uma expressão da força interna que transcende fronteiras e barreiras, irradiando amor e compreensão para o mundo inteiro.

Ouça Yopá: